TEOLOGIA



Estudo sobre Predestinação

I. Introdução
Dentre as doutrinas contidas na Bíblia, a predestinação é uma das mais difíceis de serem abordadas. Creio que poderíamos identificar três razões para essa dificuldade: 1. Rejeição em função de nossa natureza pecaminosa Nossa natureza, influenciada pelo pecado, traz uma tendência de rejeição da exaltação do Deus Soberano, ao mesmo tempo em que passa a considerar o homem superior àquilo que ele realmente é. Nesse sentido, tendemos nos apresentar numa posição de autonomia e superioridade, contrariando o que a Palavra de Deus nos revela sobre o nosso ser. As pessoas fazem um grande esforço para se desvincularem da esfera de autoridade divina, e para tirarem Deus da regência de suas vidas e do seu destino.
2. Distorção, por insuficiência de base bíblica – Às vezes, a doutrina é apresentada, ou absorvida com um exame superficial da base bíblica. Se todos os ângulos não forem estudados, ou se recorrermos mais ao “eu acho”, “eu penso”, do que a uma aceitação sem preconceitos do que a Bíblia revela, sobre as ações e planos do Deus soberano, saímos com uma idéia distorcida dessa doutrina.
3. Diluição, para facilidade de compreensão – Muitas vezes, temos a idéia de que a veracidade ou não de uma doutrina está baseada na nossa capacidade de compreensão total da mesma, esquecendo-nos de que nossa compreensão é finita, imperfeita e limitada. A diluição, ao nível de nossa capacidade, traz uma série de problemas secundários que tornam a doutrina, no cômputo final, diferente da apresentação bíblica e de impossível aceitação, mediante um estudo sério da questão.
Quando estudarmos a predestinação teremos, portanto, de estar cientes das dificuldades do estudo mas, se tivermos seriedade e humildade para aprender o que Deus nos revelar em sua palavra, devemos ter a disposição de considerar:
1. Os dados bíblicos – examinarmos o maior número possível de passagens.
2. A necessidade de não rejeitar os conceitos bíblicos simplesmente porque estes podem fugir à nossa compreensão, ou experiência, mas deixá-los permanecer em toda a sua objetividade e lógica transcendental, gradativamente, pela ação do Espírito, penetrando em nossas convicções.
3. O testemunho histórico da Igreja – ele não determina doutrina, mas o seu estudo é relevante para vermos como Deus tem guiado a sua igreja, e para discernirmos a diferença entre inovações – ventos de doutrina e as doutrinas verdadeiras provadas no cadinho do tempo e da história eclesiástica.
4. O fato de que, quanto mais aprendermos e exaltarmos a pessoa de Deus, mais cresceremos espiritualmente e mais chegaremos perto de nossa finalidade que é a de glorificarmos a ele, em todas as nossas ações.
II. O Plano de Deus – No seu relacionamento com o homem, Deus tem um
PLANO, que é mais do que um mero MAPA, constituído de caminhos alternativos, para se chegar a dois destinos finais. A Bíblia nos diz que Deus tem um plano – este plano é:
A. Eterno. Is 46.9 e 10, diz: “ Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antigüidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (veja também: 2Tm 1.9; Sl 33.11; Is 37.26; Jr 31.3; Mt 25.34; 1 Pe 1.20; Sl 139.16; 2 Ts 2.13; At 15.17,18).
B. Imutável. Tg 1.17-18, diz: “ Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança...” (veja também: Is 14.24,27; Is 46.10,11; Nm 23.19; Ml 3.6).
C. Inclui os atos futuros dos homens. Isso pode ser visto em todas as profecias da Bíblia, mas considere, especialmente, Mt 20.18 e 19: “Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte. E o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado; mas, ao terceiro dia, ressurgirá”; e Lc 22.22: “Porque o Filho do Homem, na verdade, vai segundo o que está determinado, mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído” (veja também: Dn 2.28 e Jo 6.64).
D. Inclui os eventos não importantes, ou ocasionais. Como lemos em Pv 16.33: A sorte se lança no regaço, mas do SENHOR procede toda decisão” (veja também: Jn 1.7; At 1.24,26; Mc 14.30; 1 Rs 22.28-34).
E. Especifica a certeza e a inevitabilidade dos eventos. Já vimos isso em Lc 22.22, acima, e o mesmo conceito está presente em Jo 8.20: “... ninguém o prendeu, porque não era ainda chegada a sua hora(veja também: Gn 41.32; Hq 2.3; Mt 24.36; Lc 21.24; Jr 15.2; Jó 14.5; Jr 27.7).
F. Até os atos pecaminosos do homem estão incluídos (sem que Deus seja o autor de pecado). Lemos em Gn 45.8, que as ações malévolas dos irmãos de José faziam parte do plano de Deus: “Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus, que me pôs por pai de Faraó, e senhor de toda a sua casa, e como governador em toda a terra do Egito”. Deus, entretanto, não é o autor do pecado, como nos ensina Tg 1.13 e Dt 32.4: “Eis a Rocha! Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto” (veja também: Sl 5.4; Tg 1.13; Gn 50.20; Mt 21.42; At 3.17-18; Am 3.6).
III. O livre arbítrio e a liberdade – O nosso conceito de liberdade e de livre arbítrio é muitas vezes identificado com a execução de ações erráticas, aleatórias, sem nenhum enquadramento em um modelo comportamental ou sem nenhuma ligação com a natureza e características intrínsecas das pessoas. Será que é mesmo assim? Vamos repensar um pouco os nossos conceitos, partindo de um exame da doutrina bíblica sobre a pessoa de Deus:
A. DEUS é livre?
1. Certamente que sim!—Ele é livre em um grau muito mais alto do que qualquer outro ser. Veja a Sua liberdade expressa no Sl 115.3: “ No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada ; e em 1 Co 12.11: “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um...”.
2. Isto significa que suas ações são incertas? Que ele pode mudar como um pêndulo? Pode ele quebrar o concerto com o Seu povo? Não! Por que não? Existe alguma compulsão EXTERNA obrigando-o a isto?
3. Certamente que não! Não existe nenhum agente ou força externa exercendo pressão ou autoridade sobre Deus, que é Soberano e está acima de tudo e todos.
4. ENTRETANTO, é impossível para Deus mentir! Tito 1.2 fala do “... Deus que não pode mentir... ”. Por que? Porque isto seria contrário à sua natureza e aos seus atributos! O Breve Catecismo de Westminster, responde a pergunta 4 (“Quem é Deus?”) com uma descrição dos atributos de Deus:
Deus é Espírito: Infinito Ser, Sabedoria, Eterno Poder, Justiça, Imutável em sua Bondade e Verdade.
5. Portanto, nunca, na menor de Suas ações, Ele se desviará daquele padrão de perfeição que Sua própria natureza determina.
B. E o HOMEM, ele é livre?
1. SIM, o homem é livre no sentido de que suas escolhas não são determinadas, em linhas gerais, por nenhuma compulsão externa. Podemos dizer que ele tem LIVRE AGÊNCIA.
2. ENTRETANTO, suas ações são determinadas pela natureza de seu próprio caráter, e nós sabemos que esta natureza é só pecado (Rm. 3.10-23). Neste sentido, ele não tem LIVRE ARBÍTRIO de escolher o bem, pois é escravo do pecado. Este “livre arbítrio” foi perdido com a queda, em Adão.
3. Mesmo não possuindo “livre arbítrio”, definido como a possibilidade de escolha do bem, a “liberdade” que possui, definida como livre agência, não é incompatível com o enquadramento do Homem nos planos divinos. Deus, soberanamente, executa os seus desígnios ATRAVÉS da vontade das suas criaturas (veja os seguintes trechos: Fp 2.13; Pv 20.24; 2 Co 3.5; Jr 10.23; Rm 9.16 e Tg 4.13-15).
* Talvez não compreendamos COMO Deus faz isso – como Ele preserva a livre agência, mas executa com precisão os Seus planos. Mas a aceitação dos pontos 2 e 3, acima, é a chave para entendermos melhor a doutrina da soberania de Deus e a própria predestinação. Não é negando a existência do plano de Deus, nem diminuindo a sua soberania, que retratamos a realidade expressa na Bíblia sobre essas questões. Não possuímos “livre arbítrio”, mas Deus é infinitamente soberano e onipotente para executar seus planos, sem violação da LIVRE AGÊNCIA que nos concedeu.
IV. Deus realmente determina as ações do homem? Cremos que sim. Na execução do seu plano soberano ele determina “tudo que acontece”, mas muitos têm dificuldade na aceitação deste fato. Na realidade, temos apenas duas posições possíveis, ou Deus determina as ações do Homem, ou Ele não determina estas e o homem é completamente autônomo.
Concordamos que este é um ponto de difícil compreensão. Alguns tentam contornar este problema dizendo que Deus não determina, na realidade, mas como Ele tudo conhece de antemão, Ele “determinaria”, ou “predestinaria”, as coisas que Ele sabe que irão acontecer. Ou seja, a sua determinação é dependente do Seu conhecimento prévio, de sua onisciência. Com isso, procura-se deixar as pessoas “livres”.
Será que é mesmo assim e que esta posição resolve o problema? Cremos que não! Querer resolver o problema da “liberdade humana” ancorando a soberania de Deus e a sua predestinação na onisciência dele, traz uma solução apenas aparente mas não real. A Confissão de Fé de Westminster, em seu Cap. III, seção 2, diz que Deus “... não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura”.
Vejamos a posição contrária: se ele determina, simplesmente porque conhece de antemão (como, por exemplo, falando-se das profecias registrada na Palavra de Deus), na hora em que ele houvesse determinado, essas situações se tornariam fixas e imutáveis. Dificilmente um cristão dirá que Deus não é soberano, ou que ele não cumpre o que profetizou. Sendo Ele soberano as coisas serão cumpridas, como previamente registradas. Como fica, então, a defesa da liberdade irrestrita das pessoas, do “livre arbítrio”, neste sentido? E se os homens, segundo esse conceito, que são os agentes diretos do cumprimento das determinações que Deus colocou no seu plano (apenas “porque Ele já conhecia”), na última hora resolverem “mudar de idéia”, como fica esse plano de Deus? Deus também ficará mudando, à mercê das determinações do homem, e até quando?
Vemos que procurar escapar à imensa evidência bíblica que ensina a irrestrita soberania de Deus, o seu plano sábio e sua onipotência no cumprir tudo que antes predeterminou, com o sofisma de que Deus realmente não determina, mas apenas conhece previamente, não traz qualquer pretensa “liberdade” ao homem, a não ser que se pretenda reduzir o poder de Deus. A seguir, temos um diagrama com as diferentes alternativas, posições e algumas referências bíblicas, mostrando como podemos organizar os dados das Escrituras e, até onde levam alguns pensamentos e deduções:

V. A Predestinação – Dentro do contexto bíblico, que estamos estudando, a Predestinação é simplesmente um ponto específico deste plano de Deus. O nosso Deus é soberano e não existe uma área sequer do universo, da nossa vida e existência, que não esteja sob esta soberania e regência, inclusive a questão da salvação de almas.
A. Definição: Poderíamos definir a Predestinação como sendo:
O aspecto da pré-ordenação de Deus, através do qual a salvação do crente é considerada efetuada de acordo com a vontade de Deus, que o chamou e o elegeu em Cristo, para a vida eterna, sendo a sua aceitação VOLUNTÁRIA, da pessoa e do sacrifício de Cristo, uma CONSEQUÊNCIA desta eleição e do trabalho do Espírito Santo, que efetiva esta eleição, tocando em seu coração e abrindo-lhe os olhos para as coisas espirituais.
B. A Fonte da Predestinação: É a Soberana Vontade de Deus. No capítulo 6 do Evangelho de João, temos três versículos pertinentes: 37 – “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”; 44 – “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”; e 65 – “E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido” (veja também – Ef 1.4, 5 e 11; Rm 9.11, 16).
C. A Causa da Predestinação: É a misericórdia infinita de Deus e a manifestação de sua glória. Rm 9.23 diz – “... a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão (veja também – Rm 11.33; Ef 1.6 e Jo 3.16).
D. Os Objetos da Predestinação: Pessoas pecadoras. Note Jo 1.12 e 13 – “ Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (veja também esses versos, todos em João – 5.21; 6.65; 10.26 e 27; 12.37-41; 15.16; 17.6-8).
E. Os Meios para a concretização da Predestinação:
1. O chamado externo – Mt 22.14 “ Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos” .
2. A resposta ao chamado interno (crença) – At 13.48 “... e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”.
VI. A Doutrina da Predestinação, na História . Vamos dar uma olhada “relâmpago” na acolhida, exposição e reflexos das doutrinas relacionadas com a Soberania de Deus, com Seus decretos e, especialmente, com a Predestinação através da história:
A. Entre os Judeus: Os Judeus aceitavam normalmente a idéia de Deus, expressa no Antigo Testamento, que o apresenta como estando em controle de tudo e de todos, dirigindo os passos e os destinos dos homens, como indica Pv 16.33 – “ A sorte se lança no regaço, mas do SENHOR procede toda decisão” (veja também – Am 3.5 e 6; Is 45.7 e Jo 9.2).
B. Na História da Igreja Neo-testamentária:
1. Ensinada por Jesus – Jo 5.21; 6.65; 10.27; 15.16.
2. Explanada por Paulo – Rm 9.1-16; Ef 1.4,5-11.
3. Registrada por João, Lucas e outros: Jo 1.12,13; At 13.48
4. Aceita pelos Patriarcas da Igreja, como por exemplo: Policarpo, Irineu e Eusébio.
5. Contestada pelos ramos heréticos da Igreja, dos quais o maior expoente, nos primeiros séculos, foi PELÁGIO, que defendia o livre arbítrio irrestrito, em oposição a AGOSTINHO, que defendeu e enalteceu a Soberania de Deus em todas as esferas, principalmente na salvação de almas.
6.Esquecida pela Igreja Católica, na medida em que ela foi se formando entrelaçada ao Estado, após a regência do Imperador Constantino. Este esquecimento foi paralelo ao de outras doutrinas cardeais da Bíblia, que foram sufocadas e suplantadas pelas tradições e conveniências da Igreja, concretizando-se no humanismo pragmático de Tomás de Aquino.
7.Reaparecida em todos os movimentos Pré-reforma que desabrocharam na Idade Média, sendo uma constante, paralelamente às outras doutrinas chaves da Bíblia, entre os Valdenses (seguidores de Waldo), os Hussitas (seguidores de João Huss) os Lolardos (seguidores de Wyclif), etc.
8.Revivida por Lutero, na Reforma do Século XVI, que despertando para as doutrinas fundamentais que haviam sido mumificadas pela Igreja Católica, a defende e a proclama, principalmente em seu livro: “De Servo Arbitrio” (A Prisão do Arbítrio), escrito em resposta a Erasmo de Roterdã.
9.Constante em todos os movimentos Pós-reforma, como por exemplo nos escritos e tratados de Melânchton, Zuínglio, João Knox, etc.
10.Sistematizada, em seus ensinamentos, por João Calvino, que reapresenta e sistematiza a posição de Paulo e de Agostinho em seu tratado “Institutas da Religião Cristã”, e em outros livros e comentários bíblicos que escreveu, fundamentando a posição da Igreja Protestante contra os Arminianos.
11.Atacada apenas, nesta ocasião, por Jacobus Armínius e seus seguidores, que assumiram a posição de Pelágio (vide item 5, acima), levando ao posicionamento contrário, oficial, conhecido como os cânones de Dort (Dordrecht) – que resume a doutrina reformada sobre a soberania de Deus na salvação , refletindo, igualmente a interpretação bíblica dessas doutrinas contidas no Catecismo de Heildelberg e na Confissão de Fé Belga.
12.Constituída no posicionamento oficial de quase todas as denominações que se afirmaram após a Reforma:
PRESBITERIANOS—A apresentam na Confissão de Fé de Westminster, principalmente nos capítulos V, VIII, IX, X, XI e em várias perguntas e respostas dos Catecismos (Breve e Maior).
BATISTAS—Estes adotaram a Confissão de Fé de Londres (1689, na Inglaterra e 1742 nos Estados Unidos), que é semelhante em tudo à de Westminster, exceto na forma prescrita para o batismo.
CONGREGACIONAIS—Na sua doutrina soteriológica se assemelhavam aos Presbiterianos. Alguns puritanos (caracterizados pela convicção plena da soberania de Deus) eram presbiterianos, outros (como Roger Williams, na América) eram batistas, mas muitos eram congregacionais, como Jonathan Edwards.
ANGLICANOS—Na primeira reestruturação desta Igreja, sob Edward VI, quando foram escritos os 42 Artigos de Fé, a soberania de Deus e a posição Calvinista, sobre a salvação, foi retratada e defendida.
13.Presente nas mensagens dos grandes pregadores dos séculos 17 a 19, tais como CHARLES SPURGEON—O grande pastor batista, que muito escreveu sobre eleição e soberania de Deus.
J. EDWARDS e GEORGE WHITEFIELD, nos EE UU, e muitos outros de tradição puritana.
14. Considerada como o esteio da Igreja e da Nação Holandesa, durante séculos (na forma mais abrangente da Soberania de Deus – pois penetrou a vida plena da nação, inclusive na política), o que pode ser constatado nos movimentos missionários e de catequização deflagrados pelos holandeses nos séculos 16 e 17 e, mais contemporaneamente, nas vidas e escritos de KUYPER, BAVINCK e outros ilustres homens de Deus, daquele país.
15. Considerada a mola mestra dos movimentos missionários desencadeados pela Igreja Norte Americana, pois constituía a doutrina explanada pelos grandes doutores, tais como Charles Hodge, Benjamin Warfield, Dabney e tantos outros. Neste sentido, esteve presente no Brasil desde o início da Igreja Presbiteriana, pois era a doutrina dos antigos missionários (a começar com Simonton – discípulo de Hodge) e dos primeiros pastores formados por estes, tais como o Dr. Antônio Almeida e muitos outros.
16. Infelizmente, esquecida e relegada a segundo plano por quase todo o mundo evangélico contemporâneo, mais preocupado que está com os “modismos” da época, em vez de concentração nas raízes sólidas da doutrina bíblica e na aplicação destas às pessoas, em todas as suas atividades. Este esquecimento foi provavelmente causado pelo advento do Dispensacionalismo, há cerca de 150 anos, que, popularizado pela Bíblia de Scofield, tomou conta da mensagem e da teologia da maioria das denominações, até da Igreja Presbiteriana, no maior reavivamento de Pelagianismo e Arminianismo desde a aparição destas correntes.
17. Necessária no ensinamento das Igrejas, que deveriam rever os seus Padrões de Doutrina, achegando-se cada vez mais à Palavra, para que a posição de Deus venha a ser exaltada, e para que o Evangelho puro possa ser pregado, para a glória do Seu Nome.
Acreditamos, portanto, que a Doutrina da Predestinação é bíblica; harmoniza-se com o todo da revelação da pessoa de Deus, conforme as Escrituras; e tem sido sustentada pelo testemunho dos segmentos fiéis da igreja de Cristo. Em artigo próximo, examinaremos algumas objeções contra a doutrina da predestinação e concluiremos este estudo.



FATORES HISTÓRICO-TEOLÓGICOS DETERMINANTES NA CONSTRUÇÃO DO MÉTODO EXEGÉTICO -


Durante milhares de anos a Bíblia vem experimentando todo tipo de análise e interpretação. Vivemos numa época em que há mensagens “bíblicas” para todos os gostos. Mas o desafio que se lança diante de nós é o de avaliarmos a veracidade bíblica da mensagem extraída.

O primeiro passo nesta direção é o de entendermos o princípio aplicado para se chegar a determinada conclusão quanto a um texto em análise. Quando conseguimos fazer isto fica bem mais fácil detectar os pontos falhos ou coerentes da abordagem dada.

É justamente neste sentido que o estudo da história da exegese se torna importante e necessário instrumento de trabalho, pois é através da história que passamos a conhecer os diversos métodos utilizados a fim de se extrair o sentido das Escrituras. E como a história é cíclica, a interpretação continua a girar em torno destes mesmos princípios exegéticos. Às vezes com uma roupagem nova, com alguns acréscimos ou decréscimos, porém, sempre com a mesma essência.

Ao estudarmos a história do desenvolvimento exegético, ou hermenêutico, descobrimos que estes métodos foram os mais diversos possíveis. E isto nos faz perguntar por que razão chegamos ao ponto de termos de elaborar métodos para a compreensão bíblica? A Bíblia já não é clara por si mesma? E se ela é a Palavra de Deus, não deve ser aceita tal como se apresenta?

Estas perguntas nos levam aos elementos, ou fatores, determinantes que forçaram a necessidade da elaboração de uma metodologia para uma fiel interpretação bíblica. Tentando dar uma resposta a esta questão, apresento alguns destes fatores que julgo terem sido os principais responsáveis por isto.

O primeiro fator a forçar a elaboração de uma metodologia para a compreensão bíblica foi o distanciamento com os eventos bíblicos. O aspecto temporal foi determinante para que o povo de Deus, em sua caminhada histórica, refletisse o que era ou não a vontade de Deus frente aos desafios sociais. Juntamente com o aspecto temporal podemos associar, também, o aspecto geográfico e econômico. A situação de vida dos povos bíblicos se tornam mais complexos a cada estágio de desenvolvimento.

De repente, um povo seminômade passa a ser sedentário. O poder do clã, e as ligas tribais passam a existir em termos de sociedade tribal federativa. A teocracia é abandonada em favor da monarquia. E por fim, esta monarquia se desfaz, fracassada, deixando um povo espalhado pelo mundo.

Como se vê, em cada estágio muda a geografia do povo de Deus e consequentemente a sua economia. E isto faz surgir as injustiças, as opressões, a escravidão e a crueldade manifestada em cada nova liderança. Neste cenário aparecem os profetas que se propõem à uma releitura da Lei de Deus denunciando as mazelas dos poderosos.

A distância dos eventos também se fez sentir nos aspectos culturais e religiosos. Muitos textos começaram a perder sentido e importância pois a cultura, e consequentemente seus costumes, se tornaram obsoletos para os novos tempos que despontavam entre o povo de Deus. Da mesma forma, o ritual religioso exigia novas mudanças, novos ares. E não é sem razão que vemos os profetas, novamente, batendo de frente contra as cerimônias religiosas destituídas de vida, meramente mecânicas e ritualistas.

Enquanto as pessoas se encontravam perto cronológica e geograficamente, vivendo sob os aspectos econômicos, culturais e religiosos dos eventos narrados, a margem de erro na interpretação de significados de um texto eram ínfimas. Além disto, em muitos casos os autores ainda estavam vivos, o que, por sua vez, facilitava a tarefa da comunidade de fé.

Mas com o passar do tempo, e as mudanças sociais, políticas, econômicas e religiosas, um abismo tremendo passou a existir entre o que foi transmitido e aquilo que era entendido. Quanto maior era a distância, maior era a dificuldade de ouvir Deus falando em cada geração.

O segundo fator, segundo minha avaliação histórica, a forçar a necessidade da elaboração de uma metodologia exegética foi o surgimento das heresias. Esta consideração pode ser vista tanto nas comunidades judaicas quanto nas cristãs.

Entre os judeus a heresia perniciosa era o cristianismo. Isto porque os autores neotestamentários, com as suas releituras de textos do Antigo Testamento desafiaram a ortodoxia judaica.

Este desafio imposto pelos cristãos fez com os judeus tomassem duas atitudes. A primeira foi a de estabelecer o cânon do Antigo Testamento. O uso corrente da Septuaginta entre os cristãos fez brotar o medo de acréscimos de livros à Tanak com a finalidade de respaldar os ensinos do cristianismo. Assim sendo, o Concílio de Jâmnia se reuniu em 92 d.C. no intuito de reconhecer os livros que sempre foram tidos como autoritativos e inspirados entre os judeus.

A segunda atitude foi a de reconhecer e validar a metodologia hermenêutica elaborada pelos rabinos no período chamado inter-bíblico. Com isto, tentava a ortodoxia judaica fechar a possibilidade de se dar outras interpretações aos textos sagrados além daquelas estabelecidas pelos grandes rabinos.

Mas o medo das heresias não se fez sentir apenas entre os judeus. Do outro lado da moeda os cristãos passavam pelos mesmos temores e desafios. Ao final do primeiro século as igrejas já experimentavam um pouco deste problema. Alguns apóstolos, inclusive, tiveram de escrever algumas epístolas a fim de combater as heresias que começavam a se infiltrar no seio das comunidades cristãs (p.ex. 2 Pd, Jd).

Por incrível que possa parecer, o primeiro desafio surgiu entre os próprios cristãos, e o mais impressionante ainda, do grupo de judeus convertidos ao cristianismo. Este grupo ficou conhecido como judaizante, justamente por defender a observância e a validade de todas as leis, principalmente as leis rituais ou cerimoniais, do Antigo Testamento para todos aqueles, que vindo do paganismo, aceitassem a Jesus como seu Senhor e Salvador.

Da mesma forma como os cristãos procuravam convencer os judeus que Jesus era o Messias esperado, valendo-se das Escrituras veterotestamentária, os judaizantes procuravam provar a validade da Lei. E é nesta controvérsia que temos uma excelente fonte de pesquisa de como os autores bíblicos interpretavam as Sagradas Escrituras.

O outro grande desafio para os cristãos foi a cristianização do gnosticismo. Este movimento esotérico religioso teve, provavelmente, as suas origens entre os povos do Oriente, onde foi influenciado pelas religiões da Babilônia e da Persa. Segundo Bengt Hägglund, “os mitos cosmológicos atestam sua origem babilônica, enquanto seu dualismo extremado o relaciona com a religião da Pérsia”.

A metafísica fundamental do gnosticismo gira em torno do seu dualismo. Assim, o ponto de partida era o contraste entre o bem e o mal, o mundo espiritual e o mundo material, bem como entre a esfera superior e a inferior.

Isto fazia com que Deus fosse distinguido de um deus inferior, sendo este o criador do mundo material. Esta idéia se deve ao fato de que, para o gnosticismo a matéria era má (uma interpretação dos conceitos platônicos), e sendo o Deus supremo um ser espiritual, este não poderia criar o mundo. Somente um ser inferior espiritualmente poderia levar a cabo tal procedimento. Este ser inferior também era conhecido como demiurgo.

No processo de cristianização do gnosticismo este demiurgo passou a ser identificado com o Deus do Antigo Testamento. Ele pertencia a uma classe de trinta eons que haviam emanado da Divindade.

Nessa relação, Cristo e o Espírito Santo se originaram num dos eons mais elevados. Com isto, a tarefa do Cristo era restaurar ao Pléroma (plenitude) o eon caído, além de livrar as almas dos homens do seu cativeiro do mundo material e trazê-los de volta ao mundo do espírito.

A salvação proporcionada por Cristo foi vista no sentido da percepção superior (gnósis) dos gnósticos. Essa percepção era vista numa forma de sabedoria esotérica que proporcionava o conhecimento relativo ao Pléroma e ao caminho que conduzia para lá. Mas como nem todos os seres humanos eram capazes de alcançar esse conhecimento, os gnósticos passaram a distinguir três classes de pessoas: os pneumáticos (capazes de receber o conhecimento), os materialistas (aqueles que eram incapazes de utilizar este conhecimento) e os psíquicos (uma classe intermediária entre os pneumáticos e os materialistas, associados, via de regra, aos cristãos).

Como podemos perceber o gnosticismo tomou emprestado muitos conceitos da soteriologia cristã, dando-lhe uma nova interpretação.

Outro grande perigo neste período, senão o maior, foi o herege Marcião. Mesmo sob influência gnóstica, ele foi mais além nas suas considerações. Não somente fez uma leitura comparativa do Antigo Testamento com o Novo, ao ponto de rejeitar totalmente o primeiro (por considerar que o deus do Antigo Testamento era outro totalmente diferente do Deus de Jesus), como passou a ditar o que era de fato cristão ou não. Além disso, elaborou o seu próprio cânon, rejeitando praticamente todos os livros do Novo Testamento, os quais, segundo ele, haviam adulterado os ensinos de Jesus pelos apóstolos, aceitando somente os textos paulinos (com exceção das epístolas Pastorais) e uma versão mutilada do evangelho de Lucas.

Diante destes desafios a Igreja precisava dar uma resposta, mas como? Como ela poderia provar que o que estava sendo ensinado era errado, incoerente com o sentido das Escrituras?

O terceiro fator a forçar a elaboração de uma metodologia exegética foi o silêncio profético e apostólico. Sempre presente e marcante entre o povo de Deus eram as manifestações carismáticas. Em períodos de caos homens ou mulheres eram levantados por Deus para falar a uma geração perdida e desorientada.

No Antigo Testamento o silêncio profético ocorria em alguns espaços de tempo. Porém, sempre que necessário alguém surgia com uma palavra inspirada que logo era reconhecida pelo povo. No entanto, depois do cativeiro babilônico estas manifestações foram arrefecendo, ao ponto de não mais se ouvir Deus falando diretamente à geração pós-exílica.

Isto fez surgir uma necessidade, uma carência muito grande entre o povo. Como as escolas proféticas já não existiam, surgiram as escolas rabínicas, e com elas as metodologias exegéticas a fim de fazer a Palavra inspirada de Deus falar aos povos em todas e quaisquer circunstâncias.

No lado do cristianismo o problema se deu com o silêncio apostólico. A situação era a mesma. Os homens inspirados por Deus, reconhecidos pelas igrejas, haviam morrido. Porém, novas situações de vida se levantavam, e faltam instruções claras, explícitas, quanto à atitude cristã diante dos seus desafios.

Se entre os judeus a salvação foram os rabinos, entre os cristãos a salvação veio dos pais apostólicos. Estes homens foram responsáveis pela explicação e atualização da Palavra de Deus para os seus dias conturbados. E entre eles houve uma grande produção metodológica que continuam a influenciar até aos nossos dias.

O último elemento que julgo ter forçado a elaboração de uma metodologia exegética foi o interesse de se compatibilizar as Escrituras com os movimentos filosóficos predominantes em cada época .

O mundo bíblico nos apresenta uma variedade de povos que circunvizinhavam o povo de Deus. E não só circunvizinhavam como também mantinham relações, sobre tudo comerciais, entre si.

Às vezes tais relações eram apenas circunstanciais, forçadas pelo momento. Nós podemos averiguar isto nos períodos dos cativeiros israelitas. Por diversas ocasiões o povo de Deus se viu obrigado a se sujeitar aos mandos e desmandos dos seus opressores. E o mesmo ocorreu com os primeiros cristãos, quando dos períodos de perseguições promovidas pelo Império Romano.

Pois bem, estas relações, quer tenham sido amigáveis ou mesmo forçadas, trouxeram alguns desafios teológicos. Estes desafios se deram por algumas razões, entre elas podemos alistar:

* Tanto para os judeus como para os cristãos o único livro inspirado por Deus era a Bíblia. Os demais livros sagrados eram invenções humanas ou obras diabólicas;

* A Bíblia ensinava uma religião de cunho monoteísta, insistindo na existência de um único Deus e invalidando, com isto, o sistema religioso politeísta, o qual era praticado pela maioria dos povos bíblicos;

* A ética bíblica exigia um padrão moral muito elevado do fiel designando todos os atos impuros, imorais, como pecados e passíveis de condenação eterna. Esses valores morais refletiam a santidade do Deus bíblico, sendo Ele o referencial para o fiel. Isto distoava com a ética pagã que via a imoralidade com naturalidade. E o pior, esta ética refletia o comportamento dos seus deuses, à exemplo do povo bíblico. Com isto, não só a ética pagã era posta à baixo da ética bíblica como os seus deuses também em relação ao Deus da fé judaica e cristã;

* Por último, devemos lembrar que vários conceitos teológico-doutrinários da Bíblia pareciam pura aberração para os povos pagãos. No Antigo Testamento podemos destacar a lei da circuncisão. Para os povos semitas aquilo era uma crueldade sem precedentes. Esta prática era quase que totalmente desconhecida, e a sua institucionalização religiosa chocou os povos vizinhos de Israel, pois lhes era inadmissível que Deus só abençoasse a quem se submete-se a tal ato de barbárie.

No Novo Testamento podemos destacar a doutrina da ressurreição dos Corpos. Se fizermos a devida inserção histórica desta doutrina lembraremos que para os gregos, filhos da filosofia platônica, o corpo físico é apenas uma mera prisão do espírito. Isto porque, o que há de bom é o espírito, sendo, portanto, a carne má. Sendo assim, ao ouvirem falar na ressurreição do corpo tiveram aquilo por espúrio, relegando a fé cristã a um tipo de baixa religião, uma fé de ignorantes, pois propunha ressuscitar a causa principal do sofrimento humano, a matéria.

Além destes aspectos doutrinários poderíamos citar outros, tais como as leis cerimoniais/rituais de Israel; a celebração da ceia do Senhor entre os cristãos; os conceitos de arrebatamento vétero e neotestamentários; etc...

Ora, todas estas razões, e muitas outras que podem ser observadas, fizeram surgir uma certa hostilidade para com o povo de Deus. Como conseqüência disto, os pagãos passaram a ridicularizar a fé bíblica, a fim de preservarem a supremacia de seus conceitos religiosos, e a considerá-la como uma fé bárbara, de pessoas ignorantes, desprezíveis e néscios. Na época do imperador Marco Aurélio um erudito grego chamado Celso escreveu:

Em algumas casas privadas encontramos com pessoas que trabalham com lã e com trapos, e como sapateiros, isto é, as pessoas mais incultas e ignorantes. Diante dos chefes de família, esta gente não se atreve a dizer uma só palavra. Mas assim que conseguem apartar-se com os meninos da casa, ou com algumas mulheres tão ignorantes como eles, começam a lhes dizer maravilhas. (...) Os que deveras queiram saber a verdade, que deixem seus mestres e seus pais, e que se juntem com as mulheres e os meninos às habitações das mulheres, ou à oficina do sapateiro, ou à selaria, e ali aprenderão a vida perfeita. É assim que estes cristãos encontram pessoas que lhes dão crédito (Orígenes, Contra Celso, 3:55) .

Apesar de termos citado apenas um caso cristão, esta mesma hostilidade já havia sido sentida pelos judeus no período interbíblico. Como se vê, o povo de Deus se viu cercado em suas bases. O que fazer?

É neste contexto que a Bíblia é relida com a finalidade de responder às agressões da época. No período interbíblico surgiu um grande erudito judeu chamado Fílon, da cidade de Alexandria. Apesar de que iremos estudá-lo mais na frente, podemos adiantar que este homem, ao contrário de muitos judeus, procurou mostrar a validade dos ensinos veterotestamentários conciliando-os com a filosofia pagã. E não somente isto, Fílon foi mais longe e chegou a propor que era a filosofia pagã que devia aos ensinos da Tanak aquilo que havia de melhor nos seus conceitos religiosos, fazendo dos seus filósofos dependentes das instruções mosaicas.

A mesma linha de argumentação se deu entre os cristãos. Justino, Clemente de Alexandria, Orígenes, e muitos outros procuraram, da mesma forma, mostrar que os filósofos gregos eram dependentes de tudo aquilo que a Bíblia ensinava. Que a percepção filosófica que teve Platão, Sócrates e os demais só foi possível graças aquilo que as Sagradas Escrituras já haviam revelado.

A fim de afirmarem suas teses, estes apologistas refizeram várias leituras da Bíblia numa perspectiva alegórica onde podiam inserir as principais doutrinas da filosofia grega. Esta inserção tornava a filosofia grega dependente dos ensinos bíblicos, visto que os textos das Sagradas Escrituras eram muito mais antigos do que os filósofos gregos.


Se nós continuássemos a leitura da história esmiuçando este aspecto nós veríamos que esta tendência, de compatibilizar fé e filosofia, ou fé e razão, continua, e não só continua como também é universal. Poderíamos lembrar o período da Reforma protestante embalado pela Renascença; do liberalismo, carregado das pressuposições do Iluminismo; da Teologia da Libertação, procurando dar respostas sociais aos desafios do marxismo; e tantos outros períodos, os quais veremos mais adiante, nos quais, dado aos desafios dos movimentos filosóficos predominantes em suas épocas, o povo de Deus teve que reler as Sagradas Escrituras a fim de defender a fé e dar prosseguimento na sua missão de abençoar a todas as nações.


Estes quatro aspectos apresentados acima são de fato minhas teses sobre o porque da necessidade de se elaborar uma metodologia exegética a fim de se interpretar a Bíblia. Minha avaliação histórica me faz acreditar que estes fatores, distanciamento com os eventos bíblicos, o surgimento das heresias, o silêncio profético e apostólico e o interesse de se compatibilizar as Escrituras com a filosofia predominante em cada época foram decisivos e marcantes nos diversos períodos da história da exegese. E penso, ainda, que continuam a orientar a nossa caminhada bíblica.

Quero concluir esta introdução lembrando que a elaboração de uma metodologia exegética não foi fruto de curiosos que não tinham o que fazer e ficavam brincando de serem biblistas ou coisa parecida. A elaboração de uma metodologia se fez necessária a fim de permitir às comunidades bíblicas entenderem as Sagradas Escrituras dentro dos seus anseios, lutas, provações e desafios, extraindo delas a mensagem de Deus para as suas vidas, sem, com isto, perder de vista a fidelidade àquilo que de fato o autor sagrado queria transmitir. Como veremos adiante, isto nem sempre foi possível. No grande desejo de ouvirem a voz de Deus para os seus dias muitos se perderam pelo meio do caminho e, apesar de toda a sinceridade dos seus corações, acabaram distorcendo muitas verdades da Bíblia.


Creio que enfrentamos este mesmo problema em nossos dias. Não são poucos os movimentos que tem surgido fazendo algum tipo de releitura da Bíblia a fim de darem respostas ao homem moderno. E à exemplo da história, continuam errando, distorcendo verdades sagradas, barateando a graça de Cristo, apesar de toda a boa intenção que move os seus corações.


Isto só reforça o fato de que a história é cíclica, e por isso devemos conhecê-la a fim de evitarmos os erros do passado e ampliarmos a nossa visão do futuro.

Airton Williams



QUEM É SATAN, NO LIVRO DE JÓ?


Neste mês de agosto, 2009, comecei a pregar sobre a questão do sofrimento na igreja que pastoreio, a Episcopal Carismática de Brasília. Estamos meditando a partir do livro de Jó. Todavia, para uma correta compreensão do livro e de sua mensagem, é necessário desmistificar a figura de satan na história. Antes, gostaria de deixar claro que creio na existência de Satanás e no seu poder (ainda que limitado) para enganar e aprisionar as almas. Assim, creio em possessão demoníaca, opressão maligna, e todas as demais coisas que a fé cristã tem declarado, historicamente, sobre a ação do diabo. Isto, porém, não me obriga a ver o diabo em todo lugar da Bíblia e a interpretar o termo satan como Satanás quando, claramente, o texto não o afirma.

A fim de evitar que você se perca nas meditações sobre o sofrimento, decidi postar este artigo antes, para que a leitura, posterior, flua melhor. Aqui, pretendo demonstrar porque satan, em Jó (e que fique bem claro isto, no livro de Jó), não refere-se a Satanás, mas a um anjo da corte celeste, cuja função é a execução punitiva da vontade do SENHOR e por à prova o coração dos homens diante de Deus. Há 8 pontos para serem ponderados:

1. Do ponto de vista linguístico, temos um sério problema. O termo satan, em hebraico, é precedido de um artigo, lendo-se, neste caso, hasatan. Ora, quem conhece hebraico sabe que, neste caso, não se trata de nome próprio, mas de um título que exige tradução, sendo esta a de “acusador”. Porque estamos acostumados a ver o diabo como “acusador”, interpretamos a passagem, imediatamente, como se referindo a ele. Acontece que no Antigo Testamento há um anjo da corte celeste que recebe este título também por causa de sua função, uma espécie de “promotor” da corte. Além disso, ele se faz presente no Êxodo (na matança dos primogênitos), com Saul (atormentando sua vida), no censo de Davi, e na corte, novamente, acusando o sacerdote Josué (Zacarias 3.1).

2. Em 1.6 se diz: “Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também satan entre eles”. Observe que o texto afirma, “entre eles”. Talvez isto não fique claro para você, mas em hebraico a ideia refere-se a alguém daquele grupo. Ou seja, satan era contado entre os filhos de Deus, expressão que se referia aos anjos dos céus (é importante observar que filhos de Deus aqui em Jó não é a mesma coisa que filhos de Deus em Gênesis 6.2, o qual diz respeito à descendência adâmica).

3. Do ponto de vista teológico, surge outra questão. Se satan, em Jó, fosse Satanás, teríamos uma situação complicada, pois nesta ocasião este já teria sido expulso dos céus por causa de sua rebelião. Em 2.1 este satan volta a se apresentar diante de Deus com os demais anjos. Se ele foi expulso do céu, de onde vem esta liberdade para ficar entrando no céu sem reprimenda de Deus? Muitos teólogos falam da “vontade permissiva de Deus”, mas esta é uma dedução que não pode ser tirada do texto, pois o mesmo nada fala desta vontade. A leitura natural do texto é que tal figura era um anjo da corte, e não o inimigo de Deus e de nossas almas, o diabo.

4. Em 1.19 se fala de fenômenos da natureza que teriam provocado a morte dos filhos e filhas de Jó. Neste sentido, toda a teologia bíblica afirma que tal poder sobre a natureza somente Deus tem. É por isso que os discípulos ficam assustados quando Jesus manda o vento e o mar acalmarem.

5. Do ponto de vista literário, o sofrimento de Jó, em momento algum, é atribuído ao diabo, mas a Deus. Quando todos os males vêm sobre Jó, sua mulher ataca sua integridade diante dos males e recebe como resposta: “falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?” (2.10). Observe, Jó tem como certo que o mal, sofrimento, que recebe vem de Deus, e não do diabo.

6. Os amigos de Jó em momento algum cogitam da possibilidade daquele mal vir de Satanás, mas em todo momento entendem que procede de Deus por causa de algum pecado de Jó.

7. A partir do capítulo 38 Deus entra em cena e assume para si toda a situação manifestando sua soberania. Novamente, nenhuma acusação é feita a Satanás.

8. No final do livro, cap. 42, a sorte de Jó é mudada, e por isso, seus parentes vem festejar com ele. No v.11 se diz: “Então, vieram a ele todos os seus irmãos, e todas as suas irmãs, e todos quanto dantes o conheceram, e comeram dele, e o consolaram de todo o mal que o SENHOR lhe havia enviado”. Observe, o mal, sofrimento, é atribuído a Deus, e em momento algum se fala do diabo.

Não estou fazendo uma apologia do diabo, não. Apenas estou fazendo uma análise literária e lexicográfica do sentido de satan, em Jó. E neste sentido, o termo refere-se ao anjo da corte celeste. Por que este entendimento é importante?

1. Porque desmistifica as elucubrações e devaneios dos proponentes da “batalha espiritual” que fica atribuindo ao diabo mais poder do que, de fato, ele tem.

2. Porque desfaz a teologia maniqueísta de que Deus e o diabo estão num confronto por representarem forças iguais. O diabo, de si mesmo, nada mais é do que um ser vencido pelo sangue do Cordeiro, o nosso Senhor e Salvador Jesus.

3. Porque nos ajuda a entender a soberania e a natureza de Deus em meio ao sofrimento. O nosso Senhor não é escravo da nossa vontade, podendo dar-nos tanto o bem quanto o mal, do jeito que quiser e quando desejar, visando o nosso crescimento.

Creio que a partir deste entendimento o livro de Jó se mostra mais encantador, pois nos revela um Deus soberano, amado não pelo que dá aos seus servos, mas pelo que é, Senhor e galardoador da vida. Com este entendimento, convido-o a ler as mensagens que serão postadas nas próximas semanas. E caso queira ouvir a pregação, basta acessar: http://www.episcopaldf.blogspot.com/
Pr. Airton Williams


A VOLTA PARA O REINO DE DEUS


Quando se pensa na escatologia (estudo dos eventos futuros dos últimos dias) o senso comum no meio dos cristãos, sem sombra de duvida, é pensar que nós todos estamos avançando e nos aproximando cada vez mais da volta de Cristo. Isto nos direciona para frente, numa concepção linear de espacialidade temporal. A idéia futurística não deixa de ser uma construção social e até antropológica. Cada povo e cultura têm uma idéia comum a eles próprios sobre o futuro.

A teologia crista desde os seus primórdios tem sido baseada numa cosmovisao sócio-filosofica ocidental, com raízes gregas e romanas. Baseadas numa tríade de passado, presente e futuro. Isto tem dominado o mundo ocidental. No oriente, no mundo persa, árabe e judaico, esta idéia não tem muita aceitação. O povo hebreu não separa o mundo em tempos distintos. Não separa o mundo na perspectiva espiritual, pois para eles, o que acontece na terra tem sempre explicação no céu.

Quando estudamos a Bíblia a partir do modelo padrão encontrado em Genesis 1,2 e 3, nos deparamos com a matriz do reino, da missão e do discipulado. Todo o restante das escrituras reproduzem esta matriz revelada nos 3 primeiros capítulos da Bíblia.

Quando Cristo vem ao mundo, ele vem como sendo o segundo Adão, com a missão de refazer o trabalho do primeiro Adão, ensinando os valores do Reino aos homens, mostrando os sinais e maravilhas do seu Reino na terra, veio preparar os homens para governar, dominar e sujeitar toda a terra e tudo o que Deus criou e colocou debaixo do julgo do ser humano. Cristo veio re-humanizar o que foi desumanizado. É muito comum se ver nos Evangelhos Jesus interagindo com os homens de forma social, material e espiritual, bem como, sujeitando a natureza, acalmando ventos e mares, andando sobre as águas, lidando assim, de forma integral com tudo o que Deus criou. Cristo dominava a natureza e o mundo espiritual, mas nunca dominou e sujeitou o ser humano, respeitando a matriz de Genesis nos seus 3 primeiros capítulos, onde Deus disse que o ser humano não deveria dominar e sujeitar os seres humanos e sim todas as demais criaturas criadas. Cristo odiava o pecado e o fato de ver os homens dominando e sujeitando os próprios homens, fazendo isso por meios, políticos, sociais e principalmente pelos meios religiosos.

Toda a homilia de Jesus foi concentrada sobre o Reino! Ele enfatizou o Reino, ora dizendo que o Reino era chegado, ora dizendo que o Reino estava próximo, ora dizendo que o Reino estava dentro de todos aqueles que recebiam o Rei dos reis em seus corações.

Portanto, na teologia do nazareno Jesus Cristo, quem está com Ele, já tem o reino e já está reinando. Significa que possuem os valores do Reino, devem, portanto, dominar, sujeitar toda a terra e tudo o que Deus criou, fazendo isso com sabedoria e amor, de tal forma que Deus seja glorificado neste trato com a natureza e com tudo aquilo que não é ser humano. E nas tratativas com os seres da mesma espécie, ou seja, com os seres humanos, os cristãos que são do Reino de Deus, devem amar, perdoar, amparar, ensinar, servir, e, a bem da verdade, devem tratar todos os humanos nascidos de novo em Cristo como regentes do mesmo reino em que eles próprios reinam. Não há escravos no reino de Deus. No mundo grego há escravos e há gente que nasceu para mandarem e outros nasceram para serem mandados, mas no reino de Deus, segundo o modelo dos 3 primeiros capítulos de Genesis, não foram criados servos, ao contrario disso, foram criados regentes da terra, regentes do reino de Deus aqui na terra. Portanto, quem tem o Reino dentro de si, não domina gente, não escraviza gente, não explora gente, não faz mal a gente, não mata gente, não se desumaniza com aqueles que já estão desumanizados pelo pecado. Quem tem o reino de Deus dentro de si é ser humano e deixa de ser desumano.

Isto posto, entende-se então, que a escatologia para o cristão que tem o reino dentro de si não é algo futurístico, como sendo algo que está à nossa frente, pelo contrario, para o cristão do Reino, a nossa eternidade está na volta ao plano original de Deus. A gente só nasceu porque Deus teve um propósito pré estabelecido por Ele mesmo antes mesmo de sermos criados. Deus teve um propósito para cada um de nós e só depois disso Ele nos criou, e fez isso, para que pudéssemos cumprir o seu propósito para cada um de nós. Portanto, quando nascemos, na realidade nós só nascemos porque o nosso propósito já estava concluído na eternidade. Nós só nascemos e viemos à vida porque todo o propósito de Deus sobre nós já tinha sido ultimado na eternidade por Deus. Então a nossa vinda e nascimento não foram um engano ou uma experiência.

Nenhum ser humano nasceu primeiro e depois veio um propósito para ele cumprir enquanto vida tiver aqui na terra. Ninguém nasceu para fazer algo novo e de si próprio aqui na terra. Todos só nasceram porque Deus já tinha um propósito estabelecido antes mesmo da fundação do mundo. Então todos nascem para cumprir o propósito de Deus para cada um. Nascem porque o propósito já está concluído!

A Bíblia diz que Deus estabelece o fim antes do começo! Isaias 46:9-10; Provérbios 16:1,2,3,4,9,25. O próprio Cristo como Cordeiro que tira o pecado do mundo veio a este mundo como Cordeiro simplesmente porque a Bíblia diz que o Cordeiro foi imolado antes mesmo da fundação do mundo 1 Pedro 1:19; Isaias 53 . Cristo nasceu e se encarnou porque a obra dele já estava concluída na eternidade, nos propósitos do Pai. Ele veio porque já tinha acabado! Nós viemos porque nossa obra já tinha sido concluída na eternidade! Já nascemos com o final consumado! Que maravilha! Grande mistério é este e grande maravilha para a nossa vida de fé aqui na terra!

A nossa escatologia já está concluída! O nosso futuro já foi definido na eternidade antes da fundação dos tempos, portanto, a gente não caminha pra frente como se algo vai acontecer La no futuro, mas nós caminhamos pra frente porque já foi tudo concluído na eternidade e nos decretos eternos do nosso Soberano Deus. Estamos aqui neste mundo como pessoas com propósitos definidos por Deus na eternidade. O coração dos homens enquanto vivos estiverem aqui na terra podem fazer muitos planos mas o propósito de Deus (aquele que foi definido na eternidade para cada um de nós) é o que vai prevalecer sobre qualquer plano humano.

A nossa mais importante missão na terra é acertarmos no propósito que Deus já decidiu para que possamos viver aqui realizando este propósito. Ele também já nos distribuiu os nossos dons com os quais cumpriremos estes propósitos e faremos com que a nossa missão seja cumprida no reino e para o reino. O papel principal da igreja de cristo aqui na terra é ser facilitadora desta missão! A igreja deve trabalhar com empenho fazendo com que cada membro descubra o propósito de Deus pra sua vida aqui na terra, reconheça e aprimore seus dons, e faça discípulos para o reino. Nenhum crente precisa criar propósitos pois eles já estão prontos antes de cada um nascer. Precisam apenas descobri-los e gastar o resto de suas vidas na terra desenvolvendo estes propósitos para que possam voltar ao Reino de onde vieram.

Concluindo, nossa escatologia já está concluída dentro dos propósitos de Deus para nós e para o Filho dele, Jesus! Que Deus nos ajude a vivermos o Reino e a sua plenitude aqui na terra, pois o único lugar que temos para governar, dominar e sujeitar todas as coisas é aqui na terra como regentes do reino (Salmo 115:16), pois a terra foi dada aos filhos dos homens para reinarem e fazerem o Senhor ser Rei aqui, pois La no céu Ele já é Rei. Não fomos criados para reinar nos céus mas sim aqui na terra. Quando estivermos com Cristo no seu reino, seremos príncipes, santos e amigos! Mas enquanto estivermos aqui na terra devemos exercer nossa regência, sendo executores do poder e autoridade que temos no Senhor Jesus para exercermos a justiça, o amor, o perdão e tudo aquilo que procede do reino.

O cristão do reino antes de almejar ir para o céu ele almeja trazer o céu à terra! O cristão do reino tem a consciência de que os propósitos de Deus para a vida dele têm tudo a ver com o tempo dele aqui na terra, por isso, ele sabe que tem que aproveitar a vida da melhor forma possível aqui na terra para que a missão e suas missões sejam cumpridas e ele faça discípulos para o reino. Jesus mesmo orou por eles em João 17 pedindo ao Pai que não os tirasse do mundo pois este é o lugar para eles entenderem o reino e praticarem o reino, Jesus simplesmente pediu ao Pai que os guardasse do mal.

Precisamos amar a terra pois este é o reino que temos para sermos regentes! Deus amou ao mundo! Nós precisamos amar ao mundo e nos envolvermos com o mundo! Não falo aqui do pecado que existe no mundo e nem da desumanidade que veio como conseqüência do pecado! Fomos salvos não para o céu, fomos salvos para a terra! Fomos criados regentes para a terra e não para o céu pois La já tem os regentes Pai, Filho e Espírito Santo.

Este é o nosso tempo e esta é a nossa historia!

Precisamos nos voltar para o reino e acertarmos nos propósitos de Deus para nossas vidas! Que os nossos planos, sonhos e projetos de vida estejam todos eles dentro dos propósitos de Deus estabelecidos para nós antes mesmo da fundação do mundo, pois se isso acontecer, então estaremos no reino e faremos o serviço do reino, no exercício dos nossos dons, que foram dados a nós para o exercício do domínio que recebemos em Genesis desde o inicio. Dons que edificam vidas e o corpo de Cristo! Os dons não são para manipularem ou dominarem vidas humanas, são para a edificação do corpo. Portanto, os dons não nos pertencem, eles nos foram entregues para os outros. Nossos dons são para os outros próximos e distantes de nós! Precisamos morrer vazios dos nossos dons, pois eles só nos servem aqui na terra – dentro do reino para a edificação da igreja de Cristo.

Fiquem bem no Reino!

Nossa escatologia é voltarmos para o reino! Não é irmos para a frente!

Sejamos humanos e não desumanos!

Pela causa do reino nazarenico,
Labieno Moura Palmeira Filho
Pronasce